segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Teresina e a falta de.

Não, você ainda não foi soterrada pelo concreto, mas reproduz uma frieza típica das grandes metrópoles – num paradoxo climático e sentimental. É que olhos fechados são incapazes de desenvolver afetos e ideias bonitas. Se não consegues enxergar a tua própria dor, a invisibilidade do outro é só uma consequência. Cuida da tua prole, tampa esses buracos que engolem teus filhos a cada esquina. Dá de beber a eles - estão todos com sede pela falta daquele líquido vital que não é o álcool. Teus filhos estão com raquitismo e não é por falta de vitamina D, não. Guarda esse cimento e alimenta teus filhos direito - eles estão com fome é de. Correndo uma Marechal inteira, desviando de buracos que argamassa nenhuma pode cobrir, penso em mim e nos meus irmãos. Penso que esse calor é um reflexo de tudo aquilo que queima dentro da gente. E não é apenas o sol que arde na nossa pele, é, principalmente, a falta de. E tem dias que tudo arde de forma mais intensa e não tem samba nem reza que amenize essa ardência. Mas, para dias assim, Teresina, num lapso de gentileza, oferta aos seus filhos – os de olhos atentos, um céu com cores que nunca se repetem. E é assim, com uma alvorada ou um pôr do sol, que vamos seguindo e esquecendo, por alguns instantes, a falta de.





3 comentários:

  1. Olá Raquel, como vai? Eu me chamo Lilian. Talvez não se recorde, mas escrevi uma mensagem para você, no Facebook, há muitos anos. E você encontrou essa mensagem, em SPAM, depois de outros tantos anos. Sei disso porque, por sempre admirar você, suas escritas e pensamentos, sempre quis encontrá-la nas redes. À época eu havia desativado meu Facebook, depois voltei e vi sua postagem sobre minha postagem, desativei novamente e voltei de novo (conflitos internos). Hoje resolvi procurar seu blog, que sempre me inspirou tanto, e achei. Eu não teria como explicar a nostalgia que senti. Sério, te acompanhava lá em meados de 2010, 2011 - tem muito tempo! E me lembro das suas postagens (uma pena não encontrar todas aqui para relê-las), em especial a “não sou feliz, odeio Beatriz”. Mas fico aqui, contente por ver que seu blog está ativo e que agora não perderei mais de vista - o que você escreve toca a minha alma de uma maneira que eu não saberia explicar. Obrigada. Um grande abraço!

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    1. Ah! Quando te acompanhava eu tinha uns 15 anos. Quando escrevi para você, que foi para SPAM, eu tinha 19 anos. Hoje, no alto dos meus 25, permaneço fã de tudo o que você escreve. Aprendi, desde muito cedo, a não guardar elogios. Por isso escrevo para você, novamente, com nostalgia e alegria por encontrar o Vai Um Sonho Aí? novamente. Cara, você era minha inspiração na adolescência. Eu não sei te explicar o que as coisas que você escrevia significaram. Não me ache exagerada, por favor. Hahahahah

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  2. Oi, Lilian! Desculpe a demora em responder. Eu dei uma sumida do blog e só pude ver o seu comentário agora. Saiba que esse feedback é muito especial pra mim, sinto-me honrada em poder ter tocado você com as minhas palavras. Para um escritor esse é, sem dúvidas, o melhor elogio. Pretendo voltar a escrever e movimentar o blog. Você usa redes sociais? Vamos conversar mais? Me manda um e-mail pra gente trocar contato: frau.gc@gmail.com
    Abraços ��

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